A gasolina seria bem mais barata. Isaac Newton ensinou que uma gravidade dessas só existiria por aqui se o planeta engordasse exatamente 15,6 vezes. Ao engordar, a Terra levaria de bônus sextilhões de toneladas em areia, mar, ouro e (por que não?) petróleo. Imagine viver em um mundo onde ir ao posto encher o tanque do seu carro deixaria de ser o suplício que tem sido atualmente, por causa dos aumentos constantes no preço do combustível. Legal? Seria, não fosse por um probleminha básico: a gravidade de Júpiter é 2,5 vezes maior que a nossa. O suficiente para causar mais destruição ao nosso planeta que qualquer guerra nuclear. Com uma gravidade tão grande, nossos prédios e pontes não agüentariam muito tempo. Nossos corpos, então, agüentariam por muito menos.
Ficar nesse ambiente de hipergravidade seria tão saudável quanto passar o resto da vida num carrinho de montanha russa, sofrendo aquela aceleração toda ininterruptamente. Mais hora, menos hora, o seu corpo pediria arrego: o mais provável é que nossos tecidos se deformariam, nosso cérebro receberia cada vez menos sangue até deixar de funcionar e teríamos hemorragias internas por todo lado.
É que todas as coisas vivas que a gente conhece foram moldadas para funcionar sob uma gravidade nem mais nem menos forte que essa que prende sua bunda no sofá. Não se discute com bilhões de anos de evolução. Tanto que é impossível dizer se formas complexas como você, um ornitorrinco ou uma ameba sequer teriam aparecido numa Terra de gravidade jupiteriana. E não é só por causa dos problemas fisiológicos.
“Para começar, dificilmente choveria num mundo desses”, diz o meteorologista Fábio Gonçalves, da USP. O aumento da gravidade achataria a atmosfera, deixando-a 2,5 vezes mais curta. Assim, as nuvens não teriam espaço para crescer a ponto de formar chuva. Pelo menos não na quantidade em que chove hoje. Sem tanta água, é provável que os continentes se transformassem em um desertão.
“O ar ficaria bem rarefeito nos locais acima do nível do mar”, explica o geofísico Lon Hood, da Universidade do Arizona. Uma cidade como La Paz, na Bolívia, a 3 660 metros de altitude, seria um lugar tão frio e sem oxigênio quanto o topo do Everest, a 8 848 metros, onde até um alpinista equipado só sobrevive por algumas horas. No fim das contas, talvez seja melhor pagar mais pela gasolina.
Problemas em dobro
Gravidade jupiteriana traria transtornos para seres humanos
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
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RESSACA MALFADADA